A comunicação é estratégica
Estou lendo O homem que não queria ser papa, de Andreas Englisch. O livro trata do pontificado de Bento XVI por uma perspectiva bem singular. O autor não era secretário do papa ou um de seus alunos, era um jornalista da Agência do Vaticano — e é sobre esta perspectiva que ele analisa o período de Bento XVI.
Temos que lembrar que Joseph Ratzinger foi eleito para suceder um dos homens mais carismáticos e midiáticos do mundo: simplesmente João Paulo II. Já seria um desafio para qualquer um, mas no caso da eleição, havia um ingrediente notável: ele era um senhor introvertido que não gostava de ser o centro das atenções. É essa perplexidade que Englisch coloca no seu livro: como elegeram um papa que não gostava de ser papa?
Ainda estou no meio do livro, mas dá para arriscar algumas respostas. Depois de mais de duas décadas de um homem forte no trono de Pedro, eles queriam um papa fraco. João Paulo tinha tornado seu secretariado uma figura decorativa, pois era ele quem conduzia diretamente a política do Vaticano. Os cardeais queriam restaurar o poder da estrutura — e por isso teriam optado por um papa teólogo, mais ocupado com as questões espirituais do que com o dia a dia da administração de um estado.
Só que não foi só a escolha. Havia também uma sabotagem silenciosa ao novo papa. Por diversas vezes deixaram de alertá-lo que determinadas atitudes de Bento XVI, como quando desfilou num barco sentado em uma cadeira na Jornada da Juventude em Colônia, impedindo que as pessoas o vissem — prejudicavam sua imagem.
O sr. Englisch vai mostrando que a sucessão de falhas de comunicação foi criando a imagem de um papa sisudo, que não gostava das pessoas — coisa que Ratzinger não era.
Englisch não era nenhum fã de Ratzinger; ao contrário, era um crítico ferrenho antes da eleição, a ponto de imaginar que seria demitido de seu cargo. Aos olhos de um profissional de comunicação como ele, o pontificado de Bento XVI foi uma aula de como não fazer. Muito embora, por vezes, em pequenos gestos espontâneos, Bento conseguisse anular algumas das armadilhas que ele se encontrava.
Qualquer líder que não dê a devida atenção para sua comunicação está fadado, cedo ou tarde, ao fracasso. Questão de tempo.