Juliana: breves reflexões
Esta semana acompanhamos o caso da jovem Juliana, que caiu fazendo uma trilha em um vulcão na indonésia. Infelizmente o fim foi trágico e ela acabou falecendo enquanto aguardava o resgate. Alguns pensamentos me ocorreram durante esses dias.
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O resgate chegou nela no quarto dia. Ou seja, ela faleceu sozinha, em algum momento daqueles 4 dias. Fico pensando na solidão que deve ter sentido. O que terá tentado fazer? O que pensou? São perguntas que nunca poderemos responder. O que sobra é o fato de que por algumas horas ou dias ela ficou ali, imóvel, provavelmente com dores, esperando um resgate que infelizmente chegou tarde demais.
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Muita gente brava com a Indonésia, acusando as autoridades de descaso. A internet está cheia de especialistas, até mesmo em resgate. Vi até uma maluca com a tese de que os indonésios estavam bravos por verem sua natureza invadida por ocidentais. Não tenho opinião pelo simples motivo de que não tenho os fatos. Imagino que chegar no alto de um vulcão, por trilha, não deve ser fácil. Fico pensando o que passa pela cabeça de uma equipe de resgate quando chega tarde demais. Tem que ter muito preparo psicológico para esses momentos.
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A natureza tem algo de fascinante. O que leva pessoas a se arriscarem em trilhas como essa? Alguns falaram que faltava segurança para os turistas. Pode ser, mas tem um grupo de pessoas que se sentem atraídas justamente pelo risco. Uma trilha 100% segura acabaria com a graça. Tenho um amigo que sempre me chama para voar de parapente. Sempre recusei. Para mim, não vale o risco. Não sei como pensava Juliana. O fato é que muitas pessoas querem viver a natureza em sua brutalidade, com seus riscos e mistérios. Não foi à toa que na Bíblia ela foi retratada por um dos monstros do livro de Jó, o Behemoth. Costumamos lembrar do Leviatã, mas esquecemos do outro.
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Podemos entender o Behemoth como as forças da natureza, o mundo criado por Deus. Já Leviatã é o mundo criado pelos homens, a sociedade. Depois Hobbes usou o símbolo para se referir ao estado moderno, mas não havia essa concepção quando o livro de Jó foi escrito. Ambos os monstros brigam e no fim, Behemoth vence. A natureza termina por vencer a sociedade.
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Claro que teve polarização sobre a pobre Juliana. Tudo nesse país acaba sendo visto por essa chave. Teve gente culpando o próprio Lula pela demora no resgate. Acho isso tudo muito triste. É um retrato de como nossa sociedade está doente. Uma tragédia como dessa pobre menina deveria ser um fator de união e não mais um de separação. Nada é mais urgente na cultura brasileira do que superarmos essa divisão. Podemos, e até devemos, pensar diferente, mas temos que nos respeitar. O que estamos vendo é loucura.
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Volto para onde comecei. Juliana está caída, sozinha, aguardando o resgate. Em algum momento deve ter percebido que não viria, que sua vida estava no fim. Passar as últimas horas dessa maneira deve ser terrível. Minhas orações ficam para essa menina. Que tenha partido em paz.
Muito interessante. Única opinião sobre o assunto que me pareceu honesto e lúcido 💯